Relatos do
Geógrafo Milton Santos no Livro: Metamorfoses do Espaço Habitado
"A
mundialização que se vê é perversa ( Santos, 1978 ) . Concentração e
centralização da economia e do poder político, cultura de massa,
cientificização da burocracia, centralização agravada das decisões e da
informação, tudo isso forma a base de um acirramento das desigualdades entre
países e entre classes sociais, assim como da opressão e desintegração do
indivíduo. Desse modo se compreende que haja correspondência entre sociedade
global e crise global. É igualmente compreensível, mas lamentável, que esse
movimento geral tenha atingido a própria atividade científica".
"Quando a
ciência se deixa claramente cooptar por uma tecnologia cujos objetivos são mais
econômicos que sociais, ela se torna tributária dos interesses da produção e
dos produtores hegemônicos e renuncia a toda vocação de servir a sociedade.
Trata-se de um saber instrumentalizado, onde a metodologia substitui o
método".
Uma das
características do 'espaço habitado é, pois, a sua heterogeneidade, seja em
termos da distribuição numérica entre continentes e países (e também dentro
destes), seja em termos de sua evolução. P.15
“(...) o meio
urbano é cada vez mais um meio artificial, fabricado com restos da natureza
primitiva crescentemente encobertos pelas obras dos homens
"Parece-nos
que, hoje, a geografia tende a ser cada vez mais a ciência dos lugares criados
ou reformados para atender a determinadas funções, ainda que a forma como os
homens se inserem nessa configuração territorial seja ligada, inseparavelmente,
à história do presente".
"O burgo,
lugar onde o trabalho livre é possível, concentra os artesãos; o pedreiro, o alfaiate,
mas também os comerciantes".
(...) "a
cidade é um elemento impulsionador do desenvolvimento e aperfeiçoamento das
técnicas".
"A
geografia deve preocupar-se com as relações presididas pela história
corrente".
"Cada
pessoa, cada objeto, cada relação é um produto histórico".
"Todos os
espaços são geográficos porque são determinados pelo movimento da sociedade, da
produção".
Tudo aquilo que
nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. P.22
"A
modernização da agricultura, a dispersão industrial introduzem formas novas de
organização espacial".
"Carl
Sauer, pai da geografia cultural - muito próxima da antropogeografia de Ratzel
e da geografia humana de Vidal de Ia Blache - propôs que considerássemos dois
tipos de paisagem, a natural e a artificial".
"A produção
do espaço é resultado da ação dos homens agindo sobre o próprio espaço, através
dos objetos, naturais e artificiais. Cada tipo de paisagem é a reprodução de
níveis diferentes de forças produtivas, materiais e imateriais, pois o conhecimento
também faz parte do rol das forças produtivas".
"A cidade é
essa heterogeneidade de formas, mas subordinada a um movimento global".
"A paisagem
não é dada para todo o sempre, é objeto de mudança. É um resultado de adições e
subtrações sucessivas. É uma espécie de marca da história do trabalho, das
técnicas".
"A paisagem
é um palimpsesto, um mosaico, mas que tem um funcionamento unitário. Pode
conter formas viúvas e formas virgens".
(...) "o
homem é sujeito, enquanto a terra é objeto".
"O
progresso técnico não elimina a ação da natureza".
"Assim como
a história jamais se escreve na véspera, a nova história das relações do homem
com a natureza não pode ser cabalmente prevista".
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